quinta-feira, 8 de julho de 2010

História do Emicida




Pra quem já mordeu cachorro por comida, até que ele chegou longe.

Numa lanchonete da rua Marconi, no miolo do centro de São Paulo, Leandro Roque de Oliveira, de 23 anos, pediu uma vitamina mista. Quando o garçom colocou a bebida na mesa, uma surpresa: o líquido preenchendo o copo era cor-de-rosa-chiclete-de-morango-vivo, e não aquele laranja lívido do mamão que dá cor às tradicionais vitaminas mistas. E aí, vai beber assim mesmo?, perguntei. Claro!, respondeu Leandro, sem reticências. Com ele não tem tempo (nem vitamina) ruim. Aprendeu a ser assim no fim da década de 80, quando, aos quatro, cinco anos, sentia umas pontadas de fome e, a fim de acalmá-las, frequentava cultos cristãos no bairro pra descolar algo de comer depois da pregação do pastor. A comida era pouca em casa para ele, a mãe (desempregada à época), o pai e os três irmãos. “Pra qualquer santo que desse comida eu tava rezando”. Rezando e cantando: foi pra Jesus que Leandro fez suas primeiras rimas. Ele via como cantavam os fiéis na igreja e reproduzia os louvores em casa, mas com letras suas. Senhooooor Jesuuuus, entoava sozinho, com a voz fininha, de rato, como ele mesmo descreve.

Leandro aprendeu a ignorar o tempo ruim quando tomava uns sapecos da mãe ao tentar se imiscuir entre os adultos nos bailes black que ela e o pai ajudavam a organizar na rua onde moravam, no bairro Vila Zilda, zona norte de São Paulo. James Brown, Marvin Gaye e The Manhattans esquentando o povo lá fora e Leandro, ainda criança, cobiçando a música do lado de dentro da casa. Não se deixava vencer, no entanto, e buscava refúgio onde houvesse: se não tinha Gaye nem Brown, ele ouvia Xuxa (!) na vitrola. Quando Xuxa exauriu seu gosto e paciência, ele apelou para si mesmo, para as rimas que continuou criando com a intenção de suprir sua necessidade por música – eram poucos os discos em casa e grande a vontade de encaixar rimas nos sons que ouvia. Fechado, meio bicho do mato, Leandro nunca quis mostrar a ninguém as letras de rap, histórias em quadrinhos e os zines que criava. Tinha vergonha. Quando cedeu, aos 15 anos, e mostrou um rap seu para um amigo, não se arrependeu. “Ele ficou maluco”,lembra.

Pra quem fico curioso, pra ouvi o som do cara ta ai, só curti ;D
http://www.youtube.com/watch?v=YMJOmIuUwiM


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